“Espaço” é o novo Roque Enrow

Magdalene with Two Flames - George La Tour

O silêncio do Instagram abriu um espaço

Com essa história de ficar um ano sem usar o Instagram (e as redes sociais em geral) - veja aqui se quiser saber mais -, um espaço enorme (enorme mesmo) se abriu na minha rotina. Não está sendo tão simples como imaginava, mas muito interessante. 

Silêncios vieram com esse tal novo espaço - vou te contar, uma agonia no começo, viu? É realmente uma batalha interna e mental para não cair na antiga vontade de se distrair até o apocalipse.

Nano tiques

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Já nos primeiros dias comecei a perceber um monte de nano tiques que uso para tentar evitar viver e/ou olhar muito diretamente para esse tal de espaço. Limpar a casa, focar em pequenezas do trabalho, responder e-mails e mensagens fora de hora, fazer listas, escutar podcasts etc. Veja só, até ligar para amigos já usei como desculpa para evitá-lo. 

É como se a minha cabeça fosse uma criança cheia de chocolate na veia, mas sendo mandada para o “cantinho da reflexão". Eu realmente não sei como estou dando conta de me educar. Mas estou.

Dançando com ele

Acho que é porque algo tem acontecido. Uma semente de novidade. “Uma mosca, um mistério” (nas palavras da Ritinha).

Tenho me pego desacelerando, gostando de estar calada pelas manhãs, pensando. Dançando com o tédio (ou com o novo espaço).

É tudo tão fugaz. Coisas acontecem. no meio de uma nota, vez ou outra pesco um sentimento: “Olha só, isso que estou sentindo não é medo, é raiva”.

A arte de dar o nome certo para as coisas certas

Pensamentos adormecidos, anestesiados, “recalcados” começam a vir à tona. Fazer terapia, as páginas matinais, meditação… É tudo muito bom, mas sem esse tal de espaço, sem os silêncios, vazios, muita coisa estava empacada no meio do caminho. O fluxo de processamento mental estava de alguma forma… entulhado.

Não sei explicar bem, mas tenho certeza que você está entendendo. Em especial, se tiver alguma rede social instalada na sua caixa oblonga (aka celular). 

É uma overdose de “input” alheio - posts, cores, vídeos, memes, imagens, ódios, ranços, empatias, ativismos rasos, entre outros -, e tão pouco espaço para o processar esses “inputs”.

Então, agora estou aqui, com a minha criancinha ainda sob os efeitos de anos de chocolate de péssima qualidade na circulação sangüínea, dando conta desse novo espaço. Deixando os pensamentos irem e virem, tentando não me apegar muito neles, mas querendo enxergá-los melhor.

Eu desconfio que ele chegou para ficar. Esse tal de espaço.

Enrowlemos.